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Como tornar proveitoso um Mau Negócio

Como viabilizar uma profissão que Freud classificou como Impossível


W.R.Bion

1979


Tradução e comentários de Arnaldo Chuster, Membro Efetivo e Didata da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, fiada a IPA, e Membro Efetivo e Didata do Newport Psychoanalytical Institute, Membro Honorário do Instituto W.Bion.



Uma turbulência emocional é o resultado do encontro de duas personalidades [1]_ caso o contato seja suficiente para que se percebam. O estado emocional que emerge do encontro produz uma perturbação cuja magnitude dificilmente será entendida como progresso, e a impressão resultante é que seria melhor se nunca tivessem se encontrado.


Contudo, uma vez que se encontraram_ e já que a turbulência emocional é inevitável_ as partes podem decidir como tirar proveito de um mau negócio.


Em análise, o paciente entra em contato com o analista indo ao consultório onde se engaja numa conversa da qual espera se beneficiar de algum modo. De forma análoga, o analista provavelmente tem essa mesma expectativa para ambos os participantes.


Se o paciente ou o analista diz algo [2], curiosamente isso tem um efeito de perturbador da relação. Isso também é verdadeiro caso permaneçam em silêncio. [3]

Muito provavelmente eu aguardo em silêncio, e enquanto isso tento observar algo que posso tentar interpretar. Em geral _sempre que é possível _deixo a iniciativa de falar para o paciente.


O resultado de permanecer em silêncio, ou de fazer alguma observação, ainda que seja cumprimentando com um simples “Bom dia” ou “ Boa tarde”, estabelece o que me parece ser uma tempestade emocional.


De imediato, não sabemos o significado desta tempestade, e o problema é como transformar essa circunstância adversa _ escolhi neste ponto assim nominá-la _ em uma situação vantajosa [4].


O paciente não é obrigado a fazer isso; ele pode não desejar ou pode não ser capaz desta realização. Seu objetivo pode ser bem diferente.


Eu me recordo de uma experiência na qual o paciente estava ansioso para que eu me adaptasse ao seu estado mental_ um estado que eu não almejava. Ele estava ansioso para despertar em mim fortes emoções como raiva, frustração, desapontamento, pois fazendo isso eu não seria capaz de pensar com clareza [5].


Portanto, o paciente colocou-me para escolher entre “parecer” ser uma pessoa benevolente ou “apresentar-me” como uma pessoa calma e que pensa com clareza. Mas representar um papel é incompatível com ser sincero [6]. Nesta situação, o analista tenta operacionalizar [7] um estado mental, algo como uma inspiração, que em sua avaliação pode trazer benefício ou progresso para o estado mental do paciente.


Uma interação desvantajosa pode ser ilustrada pelo paciente que responde tentando despertar no analista fortes emoções e pensamentos imperfeitos.


Na guerra [8] o objetivo do inimigo é aterrorizar para impedir que se possa pensar com clareza. Em contrapartida temos que reagir contra o terror para poder pensar com clareza, apesar de todas as adversidades produzidas pela situação assustadora.


O conceito implícito fundamental é que pensar claramente favorece a consciência da realidade – ou ajuda acessar adequadamente o que é real.


Entretanto, tornar-se consciente da realidade pode ser desagradável, pois a realidade não é necessariamente prazerosa ou bem-vinda. Este fato é típico de toda investigação científica, seja ela de pessoas ou de coisas.


Podemos estar num tipo de universo de pensamento, ou em uma cultura, ou uma cultura temporária, na qual não estamos imunes a dor de viver num universo que não conduz ao nosso bem-estar. Ousar ter consciência dos fatos do universo no qual vivemos implica em coragem [9].


Este universo pode não ser agradável e pode nos tornar dispostos a sair dele; todavia, caso não possamos sair, e se por algum motivo nossa musculatura não funciona, ou se não é apropriada para correr ou bater em retirada, então nós podemos ficar limitados a outras formas de fuga – como ir dormir, ou ficar inconscientes do universo que não desejamos estar conscientes, ou ficar ignorantes, ou idealizar.


“Fugir” é uma cura básica e fundamental. O bebê, não desejando permanecer consciente de seu “desamparo”, idealiza ou ignora. (Eu utilizo o verbo “ignorar” como o processo necessário para atingir “ignorância” [10]). Também pode recorrer a onipotência, deste modo, onipotência e desamparo estão associados e inseparáveis.


A tendência é concretizar a onipotência na pessoa de um pai ou uma mãe, ou em um deus ou uma deusa. Algumas vezes isso torna-se mais fácil usando a aparência física, por exemplo, uma boa aparência: Helena de Tróia pode mobilizar grandes poderes através de sua beleza, como nos informou Homero; “É este o rosto que lançou ao mar mil navios da Hélade e queimou as torres mais altas [11]?

O mesmo pode ser dito do homem afortunado como Páris ou Ganimedes, cujas habilidades para alcançar onipotência foram proporcionadas por sua herança física_ seu capital físico.


O corpo pode ser redesenhado para aliviar o desconforto da mente, e de forma recíproca, a mente pode redirecionar o desconforto do corpo [12]. A suposição básica da psicanálise é usar a “função” mental para corrigir soluções enganosas que eu até aqui delineei de forma sucinta. Entretanto, algumas vezes o poder cosmético não é suficiente; a solução que uma pessoa aplicou não é forte ou durável para enfrentar as exigências da vida [13].


Por exemplo, se atribuímos a um soldado autoridade por conta de sua aparência física, os eventos de uma guerra podem impor um fardo à beleza cosmética que ela não pode carregar.


Eu farei uma distinção entre existência_ a capacidade para existir _ e a ambição e aspiração para ter uma existência que valha a pensa ser vivida _a qualidade da existência, não a quantidade ou a extensão da vida, mas a qualidade da vida [14].


Não existem escalas pelas quais podemos avaliar qualidade versus quantidade, entretanto, pode ser possível contrastar a existência com a essência da existência.


O fato do analisando e do analista simplesmente existirem não é adequado; a inadequação é inseparável da responsabilidade ativa pela existência das duas pessoas, analista e analisando, que estão compartilhando do mesmo espaço.


Afirmo que o presente ensaio é científico, mas não fico pensando que todos vão concordar que ele mereça estar nesta categoria, portanto, vou prosseguir com uma série de afirmações que não tem apoio em fatos. São as seguintes: o Self que o analista observa _ tendo ele próprio essas mesmas características, têm_ de acordo com os embriologistas_ alguns objetos em desenvolvimento que eles chamam de “o córtex” ou “a medula da suprarrenal”. Esses nomes são dados a essas estruturas tão logo alcançam um padrão observável em diferentes indivíduos em épocas diferentes. Essas estruturas, no seu devido tempo, se tornam funcionais e produzem uma substância química que está relacionada com agressividade, fuga e luta [15].


Prefiro ser menos preciso excluindo qualquer elemento de direção e dizendo que as suprarrenais não provocam luta ou fuga, mas sim “iniciativa”. Os termos que uso _ luta, fuga, iniciativa_ são apropriados se o objeto observado possuir uma mente (psyche).


Para superar a dificuldade_ o obstáculo ao progresso causado pela minha falta de inteligência e/ou de conhecimento_ recorrerei a conjecturas imaginativas em contraste com o que chamo de fatos.


A primeira e mais imediata destas conjecturas imaginativas refere-se às suprarrenais como estruturas não-pensantes, todavia, elas têm estruturas em seu entorno que se desenvolvem antecipando física e psiquicamente a execução de funções que conhecemos como pensar e sentir.


O embrião (ou as fossas auditivas, óticas, suprarrenais) não pensa, vê, ouve, luta e foge, entretanto, o corpo físico se desenvolve na previsão de exercer as funções de pensar, ouvir, ver, fugir e assim por diante. Como não posso saber _ e provavelmente não terei inteligência para tal na minha efêmera existência_ eu tento transmitir ao corpo político essas apalpadelas (toques de inteligência) em direção à inteligência no caso de minhas próprias antecipações provocarem comunicações infecciosas ou contagiosas destas conjecturas que no seu devido tempo podem se realizar.


Até esse ponto estou discutindo o corpo físico como se ele antecipasse funções, ou seja, aspectos do corpo que vão gerar um equipamento próprio que atenderá aos propósitos de uma função peculiar que chamamos de “psique”. Isto é o que denomino de “antecipação física” [16], uma antecipação corporal que permite a posterior função da mente.


Eu realizo empréstimos verbais da psicologia para descrever um tema corporal; mais tarde tomarei o corporal para descrever um fato psíquico.


Focalizarei agora no problema da comunicação dentro do Self (Não me agrada usar termos que restringem e situam “o corpo” ou “a mente”, portanto eu uso o termo Self para abranger ambos, e “espaço mental” para ideias futuras que podem se desenvolver. O status filosófico desta abordagem é o Monismo [17]).


Quando estamos engajados na psicanálise a observação torna-se uma parte importante, tal como sempre foi reconhecida numa investigação científica _ por isso não devemos restringir nossas observações a um domínio limitado. Então o que estamos observando? A melhor resposta que conheço é fornecida pela expressão de John Milton na Introdução do 3º Livro do Paraíso Perdido:


Salve, ó luz, primogênita do Empíreo [18], ou coeterno fulgor do eterno Nume [19]! Como te hei de nomear sem que te ofenda. És Deus a Luz, _ e, a luz inacessível. Tens aí estado por toda a Eternidade. Habita em ti, a emanação brilhante. A brilhante não criada essência pura. Mais ventura folgarás ouvindo chamar-te-ei no fúlgido inexausto“.


Quando um paciente vem ao consultório, o analista precisa ser sensível à totalidade desta pessoa: por exemplo, deveria ser possível perceber um rubor na face como manifestação do sistema vascular, assim como deve ser capaz de ouvir as palavras que a pessoa pronuncia como parte do funcionamento das cordas vocais_ não particularizando a atividade dos músculos voluntários, nem particularmente os sons que são criados pelo aparelho fonador, mas, sobretudo, a coisa toda _ a totalidade.


Posso dizer isso de uma forma diferente; o analista precisa se capacitar para escutar não apenas as palavras, mas também a música, de modo que possa escutar uma assertiva que não é facilmente traduzida em letras num papel, que tem um significado diferente quando tem o colorido do sarcasmo, ou por uma pessoa que tem autoridade num _ embora as palavras sejam as mesmas em cada situação. Por exemplo, pode ser possível pensar em termos de um mundo ideal, a Utopia, como fez Sir Thomas More [20], e escreverem termos que não são compreensíveis para quem leia o livro.


Na sessão analítica existe uma diferença quando as palavras são pronunciadas por um analisando que é uma pessoa que ocupa uma posição de autoridade; acostumado a exercer autoridade. Quando ele fala sobre alguma configuração ideal, o que ele tem a dizer será diferente da pessoa que não tem esse poder e nem autoridade, embora usem as mesmas palavras.


O que estou dizendo pode parecer dolorosamente óbvio [21]. Minha justificativa para dizê-lo provém do fato do óbvio passar frequentemente sem ser observado. Esta é a diferença.


Eu penso que é valioso mencionar fatos óbvios _ caso contrário_ eles não se tornarão objeto de investigação sobre a qual depende toda e qualquer investigação [22] científica.


Quando neste contexto eu digo “científica” pretendo significar o processo de real-ização em contraste com ideal-ização, o sentimento de que o mundo, a coisa, a pessoa, não é adequada a menos que se altere nossa percepção da pessoa ou da coisa pela idealização.


A real-ização faz a mesma coisa quando sentimos que o quadro ideal que apresentamos com nossas afirmativas é inadequado. Por isso devemos considera qual é o método de comunicação do Self com o Self [23].


Uma grande quantidade de trabalho tem sido realizada para estudar o Sistema Nervoso Central (SNC), o parassimpático, e o sistema nervoso periférico. Todavia, não levamos em conta a parte ativa_ se é que existe uma_ na comunicação de pensamentos, ou na antecipação de pensamentos pelo sistema endócrino. Assim como a tuberculose pulmonar pode ser comunicada_ por assim dizer_ pelos vasos linfáticos, talvez os pensamentos que são habitualmente associados com hemisférios cerebrais podem do mesmo modo ser comunicados ao simpático e ao parassimpático, e vice-versa.


Essa conjectura pode abranger o estado peculiar do paciente que diz estar aterrorizado ou muito ansioso, e não tem nenhuma ideia das causas de seu estado.


Nós estamos habituados a usar associações livres para objetivos interpretativos; eu me indago se é também possível utilizar ou fazer contato com essas comunicações antes que atinjam a área que entendemos como pensamentos racionais ou conscientes.


Qual a participação nisso tudo daquilo que chamo de “conjecturas imaginativas”?


Eu vou também acrescentar “conjecturas racionais”, ou seja, conjecturas que estão ligadas com a atividade racional ou que possui uma lógica.


Comparemos esse tipo de pensamento que se relaciona (casualmente) com aquele que temos numa descrição de “noite mal dormida” ou com o paciente que fala sobre estar congestionado por causa de uma rinite.


Os anatomistas batizaram uma parte do cérebro de “rinencéfalo” [24] _ como se tivessem pensando que existe algo como um cérebro nariz.


Eu entendo, a partir dos embriologistas e fisiologistas que o sentido do olfato é um receptor de distância num fluido aquoso _ tubarões e cavalas fornecem o modelo deste receptor de longa distância. Portanto, o ser humano tem de carregar algum fluido intracelular para o mundo pós-natal onde o meio não é mais líquido e sim gasoso. O fluido aquoso, ao invés de ser uma vantagem (uma benesse) pode se tornar um prejuízo [25].


O indivíduo pode se queixar de rinite e dificuldade para respirar. Outro paciente pode se queixar de uma inabilidade para parar o lacrimejamento, uma secreção de fluido que tem sua utilidade_ irriga o globo ocular e limpa sujeira_ mas o excesso de lágrimas cega o sujeito.


Se por um lado me arrisco a ser monótono, e por outro pareço até estar tergiversando, eu proponho agora repetir a essência do que estava dizendo. Suponhamos o estado mental de uma pessoa dormindo no qual ela vê paisagens, visita lugares, e executa tarefas que não são usualmente feitas quando estamos acordados_ embora possam haver atividades que executamos quando acordados que são reminiscências de sonhos; as pessoas podem dizer metaforicamente que vão a algum lugar com o qual sempre “sonharam”.


A mudança do estado mental de sono (S-state) para o estado de vigília (W-state) é um remanescente da mudança do meio líquido para o gasoso, do pré-natal para o pós-natal.


Existe um preconceito a favor do estado (W-state), daí é dito, sem hesitação, que sonhar equivale a nada ter ocorrido. Entretanto, eu afirmo que isso é um preconceito de uma pessoa que está a favor da musculatura voluntária, que não atribui importância onde pode ir a menos que seja através da musculatura voluntária. Nós não escutamos muito a respeito dos lugares que visitamos, as paisagens que foram vistas, as histórias e a informação disponível quando estamos dormindo_ a menos que sejam traduzidas no estado de vigília.


Quem ou o que decide pela prioridade do W-state sobre o S-state?


Essa questão pode parecer um tanto caricatural. Mas vou intensificá-la mudando sua formulação: quem ou o que decide o estado mental de um homem _ tal como foi relatado por Hanna Segal _ ele dizia que todo mundo deveria reconhecer que o violinista está se masturbando em público. Este é um ponto de vista_ e é dito de forma muito clara_ não existe dúvida na formulação. Por que razão tomamos como o ponto de vista correto quem está tocando um solo de violino de Brahms, e que este ponto de vista é superior ao da pessoa que está sabendo que o solista está na realidade se masturbando em público [26]?


Através desse vértice o paciente psicótico pode suportar uma reivindicação quando ela se opõe a visão do “sadio”? Seria possível para um psicótico dizer; “ Pobre sujeito_ ele pensa que é um concerto de Brahms_ um ponto de vista tipicamente sadio. Claro que totalmente errado, mas infelizmente ele é sadio”.


Essa questão é ainda mais obscura quando digo que o W-state, e a história sobre o que fazemos quando estamos dormindo, vai ser retratada no estado de vigília.


O que dizer do psicanalista que pensa ser o relato da história dita por uma pessoa acordada merecedor de uma interpretação que revela um significado além do relato simples de eventos que são considerados descrições factuais de eventos ou fatos concretos.


Além do mais, o que está errado com os fatos concretos quando a pessoa está dormindo? Esta é a visão incorreta? Como decidir sobre essa escala de fenômenos?


Como levar para o W-state a experiência que temos dormindo para o tipo de funcionamento que ocorre quando estamos acordados?


De acordo com a teoria psicanalítica podemos traduzir os eventos do dia ou os eventos do pensamento consciente para o pensamento realizado pelo processo de elaboração onírica?


Em outras palavras, o que dizer sobre o processo feito pelo pensamento de vigília para traduzir eventos, lugares em que estivemos, as visões enquanto estávamos dormindo, para a linguagem de uma pessoa acordada?


Qual trabalho é necessário para traduzir o estado mental de uma pessoa que enxerga um violinista como alguém que está se masturbando em público para os termos de uma pessoa que pensa ser um concerto para violino de Brahms. Essa atividade pode de fato ser chamada de “curativa”?


Certamente que não pode ser considerada uma cura qualquer trabalho que traduza o estado de uma pessoa que pensa numa masturbação em público para o estado que pensa ser um concerto de violino. De uma forma geral, a maioria da votação parece que estará a favor de que essa pessoa está deteriorada, ou sofreu um infortúnio como resultado de sua experiência analítica.


Se o S-state é entendido como valioso e igualmente respeitado como o W-state _ sendo o árbitro imparcial_ então os lugares onde fomos, o que observamos e vivenciamos, podem ser avaliados como tendo o mesmo valor. Isto está implícito quando Freud_ como muitos antecessores_ perceberam que os sonhos merecem respeito.


Por isso podemos dizer que o trabalho de vigília deve ser considerado tão valioso como o trabalho do sonho. Mas por que o estado mental de vigília_ consciente, lógico_ é visto como “uma sabedoria sobre nós mesmos [27]” e, no entanto, é apenas a metade de nossa sabedoria?


Que desagradável é encontrar um verme numa maça. Não tão desagradável quando se encontra apenas meio verme na maça. Assim, nós pensamos que ter apenas a metade de nossa sabedoria sobre nós mesmos é uma descoberta muito perturbadora. Este é um assunto que causa muita divergência de opiniões; devemos ter todas nossas capacidades ou voltamos a ter apenas a metade _ aquela metade acordada, racional, lógica. Trata-se de um tipo de matemática que geralmente é admitida como válida, e aceita pela maioria, pela cultura prevalente, pela moda presente no meio social, no meio civil.


Suponha-se que respeitemos ambos os estados mentais ou muitos estados mentais seja lá o que eles são: qual devemos escolher para uma interpretação? Ação verbal? Este é um problema cotidiano. Em nossa cultura atual não é considerado correto dar uma resposta rapsódica [28], um abandono súbito da tela entre impulso e ação, ou seja, traduzindo diretamente o impulso para a ação sem qualquer retardo causado por alguma intervenção.


Considera-se igualmente incorreto prolongar o pensamento até o ponto que a ação não acontece e o pensamento se torna substituto para a ação. Quando uma ação instantânea ocorre, provavelmente desperta uma resposta rapsódica, o impulso vai para a ação sem intervenção do pensamento.


Freud descreveu Dois Princípios do Funcionamento Mental. Eu sugiro Três Princípios de Vida:


1) Sentimento

2) Pensamento antecipatório

3) Sentimento + pensamento + Pensamento. O último é sinônimo de prudência [29] ou previsão- à ação.


Um homem tem muita atividade muscular; quando acordado ele diz que teve uma noite mal dormida. Onde ele foi? O que ele viu? O que ele fez? Deveria o W-state prevalecer e ser considerado superior? Será que ele deve respeitar o estado mental que está relacionado com tanta atividade? O que podemos concluir é que a atividade física experimentada pelo paciente é evidente, inequívoca, quer seja reconhecida pelo seu analista, ele com frequência admite_ sem disposição_ que está cansado.


Talvez o problema possa ser abordado mais facilmente pelo conceito de projeção. Vamos considera-la não de forma individual, mas como um problema do corpo político. Podemos localizar na comunidade a origem, a fonte, o centro de uma tempestade emocional?


Em minha experiência é sempre provocada ou associada com um pensador sensível que pode tornar seu Self infecciosos ou contagioso. Tomemos um exemplo tosco: após Shakespeare a língua inglesa nunca mais foi a mesma.


Eu tenho me indagado porque vamos escutar trabalhos científicos. Se você quiser perceber as pessoas e a forma como elas agem, você irá escolher uma peça de Shakespeare ou um suposto trabalho científico feito por mim?


Não vou constrange-los ou a mim mesmo forçando essa pergunta, especialmente porque não tenho que fornecer uma solução para tal problema.


Todavia, existe uma longa história que se estende por períodos anteriores a Shakespeare, ou seja, bem antes da existência do inglês moderno.


Parece que o problema tumultuou os Arianos [30], embora eles estivessem preocupados com problemas de e conquista e existência material.


Não acho que seja simplificar demais dizer que desde períodos remotos da história humana, dos quais não temos registro, os Rig Veda [31] já tinham uma necessidade de desenvolver o que chamamos de “filosofia do pensamento”.


Entretanto, uma discussão filosófica sobre a sabedoria ancestral Rig Veda e outros Vedanta (escrituras ancestrais hindus) se contaminaram com hostilidade, assim como ocorreu com a filosofia dos gregos da era de Platão e Sócrates. Tornou-se algo tão temido e desagradável para as autoridades que o Imperador Justiniano [32] fechou as escolas de filosofia.


Entretanto, ele não chegou a tempo; um vírus de pensamento filosófico escapou para Edessa na Babilônia onde foi novamente reprimido. Graças a expansão do cristianismo e do emprego da língua grega, a linguagem dos filósofos foi estudada novamente; isto é, a expansão foi acidental em virtude do estudo do cristianismo.


Para resumir essa longa história, em Bizâncio houve nova repressão até a queda do Império Romano em Constantinopla. A partir daí as sabedorias perdidas foram sendo libertadas e deflagraram o virulento tumulto que se conhece por Renascença.


A sabedoria parece ter essa capacidade para sobreviver mudando sua direção e reaparecendo em lugares inesperados.


Galeno [33] estabeleceu leis de observação que o tornaram uma autoridade respeitável (como Freud é hoje em dia); uma autoridade que trouxe uma indagação que estivera proibida. A Anatomia até então não era estudada no corpo humano, mas, Leonardo, Raphael, e Rubens estudaram o corpo, e como resultado desse movimento artístico, os anatomistas começaram também a observar o cadáver, e os fisiologistas a estudar a mente.


Será que os psicanalistas estudarão a mente humana ao vivo? Ou a autoridade de Freud será usada de forma empobrecedora, como uma barreira contra o estudo das pessoas?


O revolucionário tornou-se conservador_ uma barreira contra a revolução. A invasão de um animal por um vírus ou “antecipação” de meios de pensamento apurado sofre com os sentimentos previamente existentes. Esta guerra não terminou.


[1] Note-se que Bion alude a personalidades e não a pessoas. Pessoas podem se encontrar sem que suas personalidades se encontrem. Essa barreira é muitas vezes a função do social, ou seja, evitar a realidade psíquica. Mas o encontro analítico remete sempre à realidade psíquica. Não pode evita-la. Coloca-se em jogo a intimidade psíquica. [2] O psicanalista testemunha o comportamento de um ser que está comumente, embora não sempre, conversando deitado num divã. O analista toma a cena como um todo, ou considera qualquer parte dela. “Todo” ou “parte” são aspectos de uma realidade última que evoluiu até interceptar a personalidade do observador. [3] Em ambas hipóteses temos a questão da observação e do Princípio da Incerteza: o observador altera o fato observado. Uma maneira de pensar sobre o princípio da incerteza é como uma extensão de como vemos e medimos as coisas no mundo cotidiano. Você pode ler essas palavras porque partículas de luz, os fótons, ressaltaram da tela o papel e atingiram seus olhos. Cada fóton nesse caminho traz consigo algumas informações sobre a superfície da qual ele saltou, à velocidade da luz. Ver uma partícula subatômica, como um elétron, não é tão simples. Você pode similarmente fazer um fóton saltar para fora dele e esperar, então, detectar esse fóton com um instrumento. Mas as chances são que o fóton vai transmitir algum momentum para o elétron quando ele bate nele e muda o caminho da partícula que você está tentando medir. Ou então, dado que as partículas quânticas muitas vezes se movem tão rápido, o elétron pode não estar mais no lugar onde estava quando o fóton originalmente saltou dele. De qualquer maneira, sua observação de posição ou momentum será imprecisa e, mais importante, o ato de observação afeta a partícula que está sendo observada. [4] Good account. [5] “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos” (a frase é título de um livro do escritor Rubens Fonseca). O encontro com o Não-Eu. [6] Bion estabelece, como Freud, o valor ético fundamental do analista: a sinceridade: uma contrapartida da honestidade. Ambas devem almejar em última instância o respeito à verdade. [7] Bring to bear [8]Depois de ter participado das Guerras Napoleônicas como oficial do exército prussiano, Carl von Clausewitz escreveu o livro “Sobre a guerra”. Lançado postumamente, em 1832, o livro só alcançou notoriedade 40 anos mais tarde. Um clássico da literatura sobre o tema, essa obra influenciou várias gerações de militares e ainda hoje é estudada nas escolas de formação de oficiais do mundo todo. O texto dá margem a leituras díspares e algumas de suas interpretações fizeram com que Clausewitz fosse acusado de inspirar os morticínios da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais. Um dos princípios pelos quais deve se conduzir um oficial é mencionado por Bion. [9] Coragem (do latim coraticum) é a capacidade (muitas vezes tida como virtude) de agir apesar do medo, do temor e da intimidação. Deve-se notar que coragem não significa a ausência do medo, e sim a ação apesar deste. O contrário da coragem é tido normalmente como covardia. O homem sem temor motiva-se a ir mais além. Enfrenta os desafios com confiança e não se preocupa com o pior. O medo pode ser constante, mas o impulso o leva adiante. Coragem é a confiança que o homem tem em momentos de temor ou situações difíceis, é o que o faz viver lutando e enfrentando os problemas e as barreiras que colocam medo, é a força positiva para combater momentos tenebrosos da vida. Platão correlaciona coragem, razão e dor. A coragem é o uso da razão a despeito do prazer. Coragem é ser coerente com seus princípios a despeito do prazer e da dor. [10] As bases filosóficas do agnosticismo podem ser encontradas em Kant e Hume, no século XVIII, sendo a palavra proveniente de (a) prefixo grego que significa privação, negação, e do verbo grego “anoé în” (saber). A-Gnostos (não-conhecimento). Para um agnóstico, a razão humana é incapaz de prover fundamentos racionais suficientes para justificar tanto a afirmação de que uma divindade existe quanto a afirmação de que uma divindade não existe. Na medida em que se defende que nossas crenças são racionais se forem suficientemente apoiadas pela razão humana, a pessoa que aceita a posição filosófica de agnosticismo terá o entendimento de que nem a afirmação de que uma divindade existe nem a afirmação de que uma divindade não existe são racionais. Carlos Drummond de Andrade: “Quem sou eu – tão pobre em crenças – para afirmar que Deus existe, e quem sou eu – tão cheio de dúvidas – para garantir que Deus não existe. [11] A autoria do poema é atribuída a Homero. Mas não é possível dizer que foi ele quem escreveu todos os versos. Na verdade, foram compostos oralmente, ao longo dos séculos, até que culminaram numa formatação literária. A Ilíada é um poema composto de 24 cantos e conta o final da Guerra de Tróia, que ocorreu por causa do rapto de Helena, esposa do rei Menelau. Páris que a raptou, apaixonado, gera a guerra entre gregos e troianos. A Guerra durou 10 anos e os versos narram os dois últimos meses do confronto. Para os gregos era importante a figura de um poeta cego e humilde chamado Homero, que saía pela Grécia cantando poemas. Ele era cego, mas via algo a mais do que a maioria. Tróia ficava no território turco. Foi identificada no final do século XIX por Heinrich Schliemann, no monte Hissarlik, na planície de Dardanelos, na costa noroeste da Turquia (Anatólia). [12] - Aparência versus essência é uma relação simétrica, portanto, não linear. Existem regras associadas com a aparência, pois ela oculta o sofrimento. O relacionamento entre perigo e sofrimento é obscuro. O obscuro pode torna-se enganador quando nos causa ansiedade, e esta nos leva a querer desvendá-lo com qualquer significado. [13] Sic transit gloria mundi é uma expressão do Latim que significa literalmente "Toda gloria do mundo é transitória”. Ela tem sido interpretada como "as coisas mundanas são passageiras". Estas palavras, dirigidas as legiões romanas que voltavam das batalhas, serviam como um lembrete da natureza transitória da vida e das honras terrenas. Inscritas no arco de Vespasiano obrigava os legionários a ler, na entrada de Roma_ que uma vez alcançada_ todos eram ali iguais. [14] A qualidade é a quantidade de amanhã (Bergson) ou A qualidade de um pintor depende da quantidade de passado que traz consigo (Picasso). [15] A medula suprarrenal faz parte do sistema endócrino humano e está localizada em posição retroperitonial, apresentando contato com o polo superior dos rins. A porção endócrina divide-se em duas partes: o córtex que apresenta hormônios corticosteroides e a medula que contém catecolaminas. Podemos observar e constatar a presença de fibras nervosas na região suprarrenal. A medula suprarrenal é a fonte do hormônio catecolamina circulante. Secreta (expele) também pequenas quantidades de norepinefrina. Esses compostos exercem efeitos diversos sobre o metabolismo e sobre os diferentes sistemas do corpo. A medula suprarrenal representa basicamente um gânglio simpático aumentado. Os seus corpos celulares não têm axônios. Descarregam rapidamente catecolaminas diretamente para a corrente sanguínea. São por isso tratadas como células endócrinas e não como células nervosas. O tecido da medula suprarrenal no adulto pesa cerca de 1 g. Esse tecido é constituído por células cromafins. A medula suprarrenal é ativada em ligação com o sistema nervoso simpático. Algumas ações da norepinefrina são reproduzidas e ampliadas pela epinefrina que chega a áreas semelhantes através da circulação sanguínea. Também apresenta a capacidade de manipular os efeitos da norepinefrina. Por exemplo, durante um episódio de hipoglicemia, a medula suprarrenal é ativada alternadamente sem a intervenção do sistema nervoso simpático. [16] Fisiológica? [17] O problema mente-corpo é uma questão tratada nos campos da metafísica e da filosofia. O problema levantou-se devido ao fato que os fenômenos mentais parecerem qualitativa e substancialmente diferentes dos corpos de onde parecem depender. Duas teorias principais surgiram para a resolução do problema. O dualismo é a teoria que diz que a mente e o corpo são duas substâncias diferentes. O monismo é a teoria que diz que a mente e o corpo são, na realidade, uma única substância. Os monistas, também chamados materialistas, afirmam que ambas são matéria, e os monistas idealistas apoiam que ambas estão situadas na mente. O problema no Ocidente foi identificado por René Descartes. Mas a questão já havia sido abordada por filósofos da era anterior a Aristóteles e na filosofia do avicenismo. A realidade é um princípio único, um fundamento elementar sendo os múltiplos redutíveis em última instância a essa realidade. John Searle que discutiu Descartes nega o dualismo cartesiano, a ideia de que a mente é uma forma separada de substância do corpo, porque isso contraria toda a nossa compreensão da física, e ao contrário de Descartes, ele não traz Deus para o problema. Searle rejeita o dualismo de propriedades e qualquer tipo de dualismo, a alternativa tradicional para o monismo. Ele considera que a distinção é um erro. Ele rejeita as ideias de que porque a mente não é objetivamente visível, não cai sob a rubrica do fisicalismo. [18] Lugar onde moram os deuses; o Céu. [19] Ser ou potência divina, divindade; cada um dos deuses do paganismo. [20] Thomas More (1478-1535) escreveu a Utopia como imaginação de uma sociedade perfeita, embora a palavra que se origina do grego significa U (negação) e Topos (lugar), ou seja, um modo irônico de batizar uma sociedade perfeita como não-lugar, ou lugar inexistente. Thomas More, diplomata inglês, escreveu o livro em 1516, durante negociações para defender mercadores londrinos no comércio de lã. Utopia é uma ilha imaginária, mas existe uma crítica a corrupção e a glória concedida aos estadistas que a obtém às custas do sangue de seus súditos. [21] “Só os profetas enxergam o óbvio”, Nelson Rodrigues. [22] A investigação que leva em conta a complexidade é sempre uma tarefa interdisciplinar. Não apenas em virtude da tradicional dificuldade de delimitação do seu campo operacional, mas particularmente em função da mudança substantiva que se verificou com respeito ao entendimento da linguagem. Quase podemos dizer que uma revolução no interior da linguagem desdobrou-se ou articulou-se com uma revolução no âmbito da ciência. Heidegger afirmou que “a linguagem é a casa do Ser”. Podemos acrescentar que o Ser é a casa do Humano. Bion propõe pensar o Homem dentro da obviedade revelada por dois polos do Humano: o sentido da real-ização, criação, e o da ideal-ização, ou alteração para atender aos próprios modos, receios, angustias, desejos, etc. Nas palavras de T.S. Eliot: “Entre a ideia e a realidade, entre a ação e o ato, recai a sombra”. Essa sombra, ou mistério, deve pautar a investigação científica em oposição a qualquer discussão dogmática. [23] “A maioria das pessoas imagina que o importante na comunicação é a palavra. Isso pode ser um engano. O importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entra em comunhão”. Nelson Rodrigues. [24] O Rinencéfalo é a parte do córtex cerebral que constitui o centro do olfato. No ser humano inclui um bulbo olfativo, o trato olfativo e outras partes: pirâmide olfatória, tubérculo olfatório pré-piriforme, substância olfativa, perfurada anterior, e que são relativamente atrofiadas no ser humano. O Rinencéfalo em virtude de suas vias aferentes e eferentes pode ser considerado como um cérebro do comportamento. Nos animais, em geral, são a parte fundamental do cérebro que rege o comportamento geral. Faz parte do sistema límbico. [25] Bion usa as palavras assets and liabilities. Liability seria de forma geral uma responsabilidade. Assets produzem_ em Economia_ um benefício econômico futuro, uma obrigação futura, como num bom investimento. Um negócio bem sucedido é aquele que tem uma alta proporção de assets e liabilities. Provavelmente se referindo ao que vai ocorrer no futuro de um investimento excessivo no meio pré-natal. [26] Podemos dizer que a questão de Bion suscita o pensar sobre a interpretação que se julgue correta. Tal crença não difere da Transformação em alucinose. [27] Em inglês “our wits about us”. [28] A noção admite várias acepções: pode-se tratar do segmento de um poema de tipo épico que se declama independentemente do conjunto da obra. As rapsódias, neste sentido, existiam na Grécia Antiga quando um rapsodo tomava um trecho de um poema de Homero e passava a recitá-lo, deixando de lado os restantes versos. Cabe destacar que os rapsodos eram aqueles que percorriam diversas localidades para recitar fragmentos de poemas de Homero ou de outros autores. No âmbito da música, dá-se o nome de rapsódia ao tema que se compõe a partir da união livre de diversas unidades rítmicas e temáticas, que não têm relação entre si. Nos séculos passados, compositores como Johannes Brahms e Franz Liszt criaram rapsódias que se tornaram populares. Com o passar do tempo, uma das rapsódias mais famosas é “Rapsódia boémia” do grupo Queen. Foi composta por Freddy Mercury e editada no disco “A night at the opera”, 1975. A música é formada por seis fragmentos. Uma introdução cantada a capela segue-se uma balada com piano; logo, é a vez de um solo de guitarra, uma parte de ópera, um segmento de rock e fecha com a corda. No que toca à letra, embora Mercury nunca quis dar detalhes nem precisões, interpretou-se que refletia um conflito com a sua sexualidade. Talvez Bion se refira a algum relato que não tem compromisso com a coerência e se desenvolve de forma eufórica escondendo conflitos, mais do que revelando. [29] Prudência é a ação ponderada, discutida, examinada, deliberada. É considerada a mãe (genitrix virtutum) e a guia (auriga virtutum) das virtudes. A virtude que realiza as demais. A razão está envolvida no processo deliberativo, mas também as emoções são necessárias. De acordo com Aristóteles se um indivíduo tem prudência, ele tem as demais virtudes éticas. Mas para isso é preciso o caráter. A maioria dos erros está associado a falta de prudência. A precipitação, a submissão total às emoções, o mau humor e a idealização são o berço dos erros. [30] O termo ariano refere-se a um grupo étnico, tem vários significados. Refere-se, mais especificamente, ao subgrupo dos indo-europeus, que se estabeleceu no planalto iraniano desde o final do terceiro milénio antes da era comum. Por extensão, a designação "arianos" (não o termo "árias") passou a referir-se a vários povos originários das estepes da Ásia Central - os Indo-europeus - que se espalharam pela Europa e pelas regiões já referidas, a partir do final do neolítico. O nome ariano vem do sânscrito arya, que significa nobre. Até recentemente, acreditava-se que os arianos teriam invadido o subcontinente indiano por volta de 1 500 a.C., vindo do Norte, pelo Punjabi, disseminando-se pela Índia, Pérsia e regiões adjacentes. Teriam sido os descendentes dos indo-europeus que fundaram a civilização indiana, subjugando as populações locais, dando origem ao sistema de castas e, mais especificamente, às castas dominantes dos Brâmanes, xátrias e vaixás. A sua cultura teria ficado particularmente expressa nos Vedas e, principalmente, no Rig Veda, considerado como o mais antigo. Muito embora, essa hipótese da invasão ariana na Índia tenha sido questionada desde o final do século XIX, por causa de certas descobertas arqueológicas e geológicas e pela proposta de interpretações das evidências conhecidas anteriormente, novos estudos do âmbito genético põem-na em evidencia e tornam-na afinal mais credível. [31] Rig Veda também chamado de livro dos Ainos_ em sânscrito védico_ é o documento mais antigo da literatura hindu. Possui 1028 hinos sendo que a maioria se refere a oferendas e sacrifícios aos deuses. A obra foi escrita no Punjabi por volta de 1700 -1100 a.C. Faz ligações entre a astronomia, o fisiológico e o espiritual. Encontramos mais tarde uma correlação com o zoroastrismo persa. [32] Imperador bizantino de 527 a 565 d.C. Em seu reinado procurou reviver a grandeza do Estado (renovatio imperii) e reconquistar o Império Romano que havia sido tomado pelos bárbaros. Filho adotivo de Justino, ex guarda analfabeto que viria reinar o Império bizantino. Há quem considere o direito romano um dos pilares da civilização ocidental, juntamente com a moral judaico-cristã e a filosofia grega. Após a Queda do Império Romano Ocidental, boa parte do direito romano desapareceu, mas não totalmente, graças à intervenção do imperador Justiniano. Ele fez uma atualização do direito romano, mandando reunir e coordenar leis e decretos de Roma numa obra, que ficou conhecida como Código de Justiniano, ou Corpus Juris Civilis. Boa parte do que se conhece em termos de direito e legislação, foi retirado do Código de Justiniano. [33] Cláudio Galeno (Pérgamo, a.C. 129 - provavelmente Sicília, a.C. 217), mais conhecido como Galeno de Pérgamo foi um proeminente médico e filósofo romano de origem grega, e provavelmente o mais talentoso médico investigativo do período romano. Suas teorias dominaram e influenciaram a ciência médica ocidental por mais de um milênio. Por volta de 170, Galeno realizou uma experiência que iria mudar o curso da medicina: demonstrou pela primeira vez que as artérias conduzem sangue e não ar, como até então se acreditava. No campo da anatomia, Galeno distinguiu ainda os ossos com e sem cavidade medular. Descreveu a caixa craniana e o sistema muscular. Pesquisou os nervos do crânio e reconheceu os raquidianos, os cervicais, os recorrentes e uma parte do sistema simpático. Galeno também foi o primeiro a demonstrar (baseado em experiências) que o rim é um órgão excretor de urina.


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