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Psicanálise Contemporânea: identidades e diferenças causadas pelo tempo.




O objetivo deste trabalho como o próprio título indica é investigar, e ao mesmo tempo dialogar, sobre a existência de identidades e diferenças na psicanálise que foram trazidas pelo tempo. Mas de que tempo estamos falando?


A ideia mais imediata é supor que estamos falando do tempo que existe entre os primórdios da psicanálise específico de Freud até chegar aos autores dos dias de hoje, que são chamados de contemporâneos. Todavia, como Freud continua atual como nunca, podemos dizer que de seu pensar não somos contemporâneos?


Sabemos que faz parte da história da psicanálise uma sucessão de autores que foram chamados de contemporâneos. Temos os contemporâneos de Freud, passando pelos pós-freudianos, kleinianos, pós-kleinianos, winnicottianos, lacanianos, psicólogos do Ego, Psicólogos do Self; designações de um pensar que parecia contemporâneo de alguma celebridade psicanalítica que lhes deu origem.


Como não temos mais a presença viva de Freud, e a época das sumidades em psicanálise parece ser passado, então somos o que? Contemporâneos de nós mesmos? Ou teremos que continuar procurando e até inventando celebridades.


Este questionamento é um exemplo do problema de identidades e diferenças que temos que enfrentar em nosso diálogo.


Tudo que é contemporâneo é passageiro, apesar de esquecermos isso com frequência. O tempo histórico nos mostra que falar sobre o vértice do conhecimento acumulado desde Freud até os dias de hoje é uma tarefa certamente enciclopédica, que se choca com a limitação de tempo do nosso encontro. Temos então tempo e contratempo. Qual a saída que podemos ter?


Sugiro que são os fundamentos da psicanálise mantidos ao longo do tempo, pois é em relação a eles que percebemos as diferenças. Todavia, essa é outra tarefa enciclopédica. Ela também se esbarra com a limitação de tempo do nosso encontro. Tempo e Contratempo; o que me leva a fazer algumas escolhas.


A primeira delas decorre do fato de que identidade (invariante) não é sinônimo de igualdade, assim o trabalho expressa a dificuldade de se encontrar com as identidades no próprio seio das diferenças. O que me conduz a uma decisão, baseada na experiência pessoal, que se decide pelo pensamento de W. R. Bion “contra” o pensamento dos demais autores.


Eu digo “contra” por duas razões principais. Em primeiro lugar, como já assinalei, não posso apresentar nesse nosso tempo limitado, uma enciclopédia de comparações com outros autores. Todavia, a comparação é inevitável por parte da audiência de psicanalistas.


Em segundo lugar, vou complexizar, assinalando que o “contra” está presente num pedido a vocês: não comparar Bion com outros autores. Pelo menos, por alguns momentos dessa exposição. Se isso for possível podemos escutar como ele propõe o renascimento da psicanálise a cada momento que falamos sobre ela e, principalmente, a cada momento da prática clínica.


Bion é incomparável? Sim e não. Como todos nós.


A originalidade da Psicanálise: uma techné inédita na história da humanidade


Sugiro que um dos fundamentos da psicanálise é a sua originalidade histórica que cada autor soube desenvolver. A questão para o psicanalista que assim entende é como se manter conectado ao fundamento?


Bion o faz de muitas formas, sendo uma delas através de uma sugestão técnica que aprofunda o método freudiano da atenção livremente flutuante: deixar memória, desejo, e necessidade de compreensão de lado, para tentar observar a novidade que emerge. Se isso for possível, poderemos perceber e sentir uma diferença importante na realidade uma que pode ser bem ampla e que envolve uma possível mudança de paradigma na sua obra.


Do ponto de vista da prática analítica, o método de Bion fez com que os analistas que o adotaram passassem a escutar e falar com os pacientes de uma forma diferente. Para conseguir isso foi necessário aceitar que durante as sessões pudesse haver um aumento da ansiedade derivada de sentimentos persecutórios diante do novo e do desconhecido de toda sessão. Além disso, implicava em aceitar ter consciência da real vivência de solidão do analista em seu trabalho, não ignorar a sensação de perigos insuspeitados com a possibilidade de enfrentar emoções violentas, e tolerar as imagens mentais ainda sem significado que vem à mente. Por outro lado, esses analistas notaram um aumento da criatividade e da capacidade imaginativa, traduzida pelo aproveitamento das imagens em busca de um sentido. Isso também significa um aumento da capacidade intuitiva nas sessões. E, sobretudo, acatar a complexidade da mente humana, como todos seus meandros e labirintos desconhecidos.


Note-se no que a techné de Bion é um movimento do inconsciente para o consciente, e não o contrário como costumeiramente se fazia ao seguir associações livres.


Muitos analistas, após algumas tentativas, acabaram rejeitando o método, pois interpretaram os fenômenos que lhes ocorria como vulnerabilidade ou fragilidade (Chuster, 2017). A proteção fornecida por memória e desejo impede a solidão, pois ambos os elementos mantêm a fidelidade teórica grupal. Não entrarei aqui no mérito das diversas patologias edípicas que insistem nessa fidelidade[1]. Uma delas gerando uma anedota ingênua que revelava a incompreensão da techné de Bion. Dizia-se que um paciente procurou Bion para uma entrevista para análise. Combinaram começar no dia seguinte. Ao chegar o paciente foi surpreendido por uma pergunta:


Bion: Quem é o senhor?

Paciente: Doutor, eu estivesse aqui ontem para hoje começar uma análise.

Bion: Desculpe, não trabalho com memória, não me lembro.

Paciente: Mas Doutor eu quero fazer análise.

Bion: Sinto muito, não trabalho com desejo.

Paciente: Não entendo, doutor.

Bion: Muito menos eu, a necessidade de compreensão não é comigo.


O método de Bion denuncia a existência de opacidades causadas por memória, desejo, e necessidade de compreensão na percepção do fenômeno que devemos investigar no presente da sessão (1970). Não diz respeito ao antes e nem ao depois da sessão.


Podemos dizer que memória e desejo são faces da mesma moeda, que são os pontos cegos edipianos. Essa cegueira pode fazer com que os sistemas simples habituais corram o risco da simplificação, e os sistemas complexos corram o risco da negação violenta. Mas, sobretudo, o uso de memória e desejo permite que aquilo que exige criatividade e singularidade transforme-se em repetição e uso de modelos estereotipados. Voltarei ao tema mais adiante.


O Paradigma ético-complexo: mais além do determinismo e da hermenêutica


Até aqui estamos dialogando sobre a originalidade e a singularidade, que são termos diferentes. O primeiro tem a ver com criação e o segundo com a humanidade. Posso então estabelecer um diálogo entre a originalidade singular e a singularidade original. Na primeira questão trabalhamos com epistemologia e na segunda com ontologia. Ambas confluem para a ética e aí teremos que discuti-la em relação ao sofrimento psíquico humano.


Enfatizo que no primeiro tópico eu disse “possível” mudança de paradigma, para deixar em aberto para os colegas e interlocutores decidirem por si mesmos sobre sua real existência. E então, por si próprios, chegar a conclusões sobre as identidades e diferenças com outros autores que não posso me ocupar nesse encontro.


De minha parte, penso que existe uma diferença muito importante. Trata-se de uma mudança de paradigma que surge como decorrência do uso que Bion fez em seu pensar dos sistemas abertos. Tais sistemas são configurados pelo universo dos objetos complexos, não-lineares, não-explicativos, em oposição aos sistemas simples, lineares, que são explicativos e diagnósticos estes últimos, mesmo que se abram para acolher elementos novos, voltam logo a se fechar. Os sistemas abertos são basicamente regidos pelo Princípio da Incerteza e seus desdobramentos nas observações.


Os sistemas abertos têm sua primeira grande expressão no trabalho em que Bion descreve um modelo espectral de partes psicóticas e não-psicóticas da personalidade (1956). Logo em seguida, no trabalho “Sobre Arrogância” (1957), Bion faz uma releitura muito original que é uma leitura ampliada do mito de Édipo usando um modelo espectral de personagens sob o efeito da parte psicótica da personalidade, que se manifesta como arrogância, e ataca os esforços para buscar a verdade.


Com isso vem à tona que a questão metafísica central da psicanálise não é a sexualidade, mas a investigação da Verdade. Essa é uma leitura que podemos chamar de vértice de uma ética trágica (o elemento principal não está em cena, deve ser buscado ou aguardado, mas nunca aparece), mas, sobretudo, entende a psicanálise como um sistema eternamente aberto.


Todo modelo espectral implica no complexo diálogo entre finitude e Infinitude. Portanto, guarda relações com a epistemologia dos conjuntos infinitos de Cantor[2], com os modelos probabilísticos e os teoremas de Indecidibilidade de Kurt Gödell[3], e com o Princípio da Incerteza de Werner Heisenberg[4]. Na ciência temos diversos desdobramentos dessas ideias, tais como a teoria dos fractais[5], a teoria do Caos[6], e finalmente a Teoria da Complexidade de Edgar Morin[7].


A contemporaneidade de Bion se encontra no diálogo constante com a ciência, mas isso não difere de Freud. Digamos que sim e não.


O uso dos sistemas abertos alterou uma sucessão de elementos na forma geral de pensar. Vou mencionar alguns no pensamento de Bion:


Ontologia------ pré-concepção (base da Teoria do Pensar), “O” das transformações, mente embrionária. O inconsciente se origina nas pré-concepções.


Epistemologia------- sistemas abertos -> experiência emocional -> objeto psicanalítico -> campo (Grade) -> Grade avançada -> cesura. Os limites são as funções.


Metodologia---------- trabalhar sem memória, sem desejo e sem necessidade de compreensão; capacidade negativa; ato de Fé produzindo linguagem psicanaliticamente bem-sucedida e simetrias.


Logica----------- Onthos inacessível que se desdobra em Opus infinito: Lógica das Transformações e simetria. Holografia.


Prática------------- Teoria do Pensar, aprender da experiência Transformações, Cesura, Simetria na Interpretação, Linguagem psicanaliticamente bem-sucedida, Futuro da Transferência.


A Teoria dos Sonhos


Um fundamento comum a todos autores em psicanálise é a Teoria dos sonhos. Portanto, é um bom tema para em nosso diálogo começar a detalhar as identidades e diferenças.


O uso dos sonhos em Freud e Klein (e em todos contemporâneos de ambos) foi sempre imprescindível para esclarecer a qualidade do mundo interno. Em Bion, esse uso alcançou uma amplitude inédita.


Penso que todos facilmente vão reconhecer uma diferença significativa em Bion, através da criação dos conceitos de reverie e função alfa, ambos derivados da função do sonhar. Os conceitos expressam as relações entre as funções do sono, do sonho, da falha do sonho, e do acordar. Além do que ocorre entre as funções que se desdobram como um campo.


Reverie e função alfa também constituem um espectro que constitui para Bion o instrumento do psicanalista. Estas funções são para o analista aquilo que é o telescópio para o astrônomo. Mais adiante voltarei a esse fundamento específico.


Bion usando o conceito de função conseguiu perceber que o sonhar é uma atividade constante da mente, uma diuturna função processadora e protetora, sem a qual não podemos viver e desenvolver como seres humanos. A psicanálise é um campo de sonhos, mas também, predominantemente, o campo[8] da função do sonhar.


Com os conceitos de reverie e função alfa, penso que Bion tentou solucionar um problema que Meltzer (1996) ressaltou em diversas ocasiões: a teoria de Freud sobre os sonhos não coincide com a clínica de Freud. A teoria comparada à clínica é relativamente simplista. O trabalho clínico executado por Freud é altamente intuitivo, e revela uma complexidade inusitada na História da humanidade. A intuição de Freud extrapola suas teorias e nos chega aos dias de hoje com as aberturas infinitas inerentes a psicanálise. No pensamento humano temos um mundo antes e depois de Freud, graças a sua intuição. A intenção de Bion é resgatá-la em toda sessão.


Foi esse aspecto intuitivo que encontrou uma resposta muito viva por parte de Karl Abraham, e posteriormente, de Melanie Klein. A intuição de Abraham o levou a apurar e descrever com mais detalhes as fases do desenvolvimento da libido postuladas por Freud. Esse detalhamento (ressalto que intuir é também detalhar), das fases oral e anal, e a importância do seu funcionamento, foi acolhido de uma forma ainda mais intuitiva por Melanie Klein.


Klein deu continuidade à questão da concretude da realidade psíquica, intuída por Abraham nos seus estudos sobre estados maníaco-depressivos, o que a levou a parar de falar em superego (que era o objeto da psicanálise para Freud) e passou a falar em objetos internos (objeto da psicanálise para Klein). Temos aqui na descrição de dois objetos da psicanálise, duas diferenças significativas, surgidas da identidade.


Em Bion, que recebeu tanto a experiência intuitiva de Freud vinda de Rickman, seu primeiro analista, como de Klein, sua segunda análise, também temos a formulação do seu próprio objeto da psicanálise: o objeto psicanalítico (1962b). Ele é uma diferença surgida a partir de uma identidade com Klein e Freud.


Melanie Klein, trazendo a ontologia do complexo de Édipo para as fases mais primitivas do desenvolvimento, buscou inicialmente compreender a origem materna do superego (Meltzer, 1996), retrabalhando a questão do ideal do ego primitivo. Todavia, ela deixou essa ideia de lado, e passou a falar de objetos internos maternos ou paternos.


Foi neste ponto deixado de lado por Klein que Bion retomou desenvolvendo outro sentido para o conceito pré-concepção inata de Klein.


Bion concebendo a pré-concepção como uma função originária cuja maior parte não era inata, mas dependente das experiências emocionais expressa de uma forma original e inédita a importância do papel da mãe no desenvolvimento do bebê: tratava-se não mais de simplesmente afirmar que a mãe era importante, mas de que forma era importante. Mais ainda descrevia em detalhes o quão complexa é a função exercida, e de como trazer essa função para o trabalho do analista.


Para melhor entender o papel da mãe na vida mental, Bion, chegou a uma compreensão distinta de Melanie Klein sobre o conceito de identificação projetiva. A teoria das funções permitiu que ele entendesse a identificação projetiva, não como uma fantasia onipotente do bebê, mas como o método primário de comunicação. Através dela o bebê transmite suas necessidades à mãe, e por isso o conceito adquire o status teórico de uma linguagem/pensamento. Para que ficasse mais clara sua ideia, Bion frisou o caráter real de acontecimentos no conceito: a identificação projetiva é um movimento básico de comunicação que não se detém com nada, somente quando atinge o objeto ao qual se destina. Ou seja, as pessoas no nível inconsciente se comunicam querendo ao não, e por isso só podem tentar rejeitar ou apurar as comunicações. Mas a comunicação sempre chega. O humano é inexorável.


No caso de uma comunicação não ser respondida ou recusada, a identificação projetiva se torna o que Klein descrevera: uma linguagem evacuativa para livrar-se dos terrores resultantes mas ainda assim é linguagem e produzirá elementos que foram chamados de elementos beta: os formadores da tela beta: uma representação pictórica de fatos na clínica percebidos como ações, reações físicas de diversas naturezas. Beta é o que poderia vir a ser pensamento, é o protótipo de pensamento que não chegou ao pensamento, somente ao corpo. Vide definição usando a poesia de William Blake, Second Anniversary: O sangue falou em suas faces de uma forma tão eloquente, que quase se poderia dizer, é como se seu corpo pensasse.


Funções e Complexidade do Édipo


O conceito de funções, um dos fundamentos da obra de Bion, pode ser definido no sentido matemático como uma interação entre invariantes e variáveis numa relação unívoca. Isso significa que na relação entre dois conjuntos, A e B, todos os pontos do conjunto A se comunicam com o conjunto B e vice-versa.


As invariantes são os símbolos ou sinais que permanecem inalterados num determinado contexto. A expressão da lógica de primeira ordem (a + b)2 = X tem como invariantes os elementos parênteses e o elevado ao quadrado, enquanto os demais elementos a e b e X são variáveis.


A e B e X podem ter valores ou interpretações distintas em momentos diferentes. Entretanto, sejam quais forem essas interpretações sabemos que a operação de soma vai sempre ocorrer antes de ser elevada ao quadrado. As invariantes criam, portanto, um campo, que como todo campo possui um limite de operações e suas derivadas em direção ao infinito.

Inevitavelmente quem investiga aplicando o estudo das funções, precisa executar uma análise funcional (buscar os elementos da psicanálise) que, por sua vez, leva ao estudo das transformações destes elementos, e que, em circularidade, leva de volta ao uso das funções.


Esse desdobramento de lógica, proveniente da matemática, se trata de uma diferença em Bion. Ele conduziu a uma concepção inédita de como funciona a mente do analista na investigação das funções psíquicas dos pacientes.


Por exemplo, o conceito de reverie traz uma visão altamente abrangente sobre a importância da função materna na origem do psiquismo humano. Descrevo sucintamente: O bebê humano busca primariamente, não o seio, mas a mente da mãe; este encontro é que possibilita a amamentação portanto, o ato não é um ato puramente físico mas um ato primordialmente mental, uma experiência emocional, que se desenvolve para ambos, mãe-bebê.


O sucesso dessa interação criará os elementos alfa, que são armazenados como memórias e arcabouços simbólicos para sonhos, pensamentos oníricos, e mitos e, de forma mais abrangente, para os pensamentos e a barreira de contato que estabelece a separação entre consciente e inconsciente.


A expressão elementos alfa foi criada por Bion para traduzir a percepção que o analista tem de um material com detalhes e tonalidade afetivas, que se desdobra em imagens e pensamentos. Ou seja, algo que conduz a uma particularização, uma singularidade do Ser.


Note-se no processo a existência da relação triangular: a mente do bebê, a mente da mãe, o seio.


Em outras palavras, em Bion ocorre uma radicalização das ideias sobre o complexo de Édipo originadas em Freud e desdobradas por Klein. Em Bion, a configuração edípica coincide com o humano a mente humana é edípica e por isso é desde sempre uma organização tridimensional. Em outras palavras, somos seres condenados a uma existência mental. Isso nos leva a um conceito ético que podemos chamar de humanismo de resistência e que define a técnica de Bion como voltada para a qualidade de vida. Essa qualidade não depende de hedonismo ou ideologias, mas de uma ampliação da ética através de princípios de vida que seguem os sentimentos, os pensamentos antecipatórios (intuição) e a combinação de pensamentos e sentimentos com a Prudência na ação (barreira ético-estética).


Esses três princípios substituem os dois princípios do funcionamento mental de Freud, ou, apenas os incluem como possibilidade imaginativa, dentro de um universo de pensamento mais complexo.

Existe, obviamente, a identidade com Freud e Melanie Klein a respeito do complexo de Édipo, mas, no seio dessa identidade surgem diferenças importantes, sobre as quais podemos agregar as seguintes proposições.


O significado do elemento inato na teoria de Bion (invariante da função) passa a ser apenas a inescapável busca pela mente do outro, seja a da mãe, casal, família, grupo social, mas sempre a busca por uma mente capaz de acolher comunicações das necessidades e incompletudes. Mas o elemento inato nada significa sem a experiência emocional.


A teoria da pré-concepção é um sistema aberto. Sua escrita recebe o recurso da abstração matemática das funções F (x), traduzido pela expressão Ψ (ξ), das letras gregas Psi/ksi: sendo Ψ a parte inata, e (ξ) a parte espectral, não saturada, e dependente da experiência emocional.


A teoria pré-concepção se amplia no estudo do pensar, do aprender com a experiência, das transformações e na descrição de uma mente embrionária que aparece mais claramente nos chamados four papers: Turbulência Emocional, Evidência, Sobre uma citação de Freud e, Como tornar proveitosos um mau negócio (1994).


Em diversos trabalhos procurei mostrar que as ideias de Bion sobre a pré-concepção coincidem com os conceitos modernos de neotenia. A neotenia é a característica principal da espécie humana, significa que em comparação aos demais primatas, nós não nos especializamos muito, ou seja, não sofremos as transformações típicas que ocorrem na maior parte dos mamíferos durante o desenvolvimento uterino e no amadurecimento. Uma parte permanece sempre embrionária disponível para evoluir.


Penso que Bion intuiu a tese de que a espécie humana sobreviveu e, evoluiu, graças à solução neotênica que fez com que os bebês da espécie pré-humana fossem nascendo cada vez mais imaturos. Com o aumento dessa imaturidade intrauterina, a espécie conseguiu diminuir a influência do inato, e aumentar a capacidade de aprender da experiência.


Essa solução possibilitou adaptações às mais variadas condições geográficas e climáticas, pois o ser humano coloca a sua experiência adquirida, não no DNA, como fazem os demais seres vivos, mas, na enigmática mente, cujos registros são transmissíveis pela combinação entre linguagem e pensamento.


Desde as mais remotas presenças do humano temos essas características impressas e testemunhadas pelas pinturas rupestres e outros sinais inequívocos da produção de uma memória externa. O mental foi sempre o fator decisivo de sobrevivência.


Todas as consequências dessa mudança ontológica se desdobram na importância do grupo para proteger os bebês, no registro de informações na fala e na escrita para transmissão geracional, no uso inequívoco da inteligência para se organizar e observar a natureza, ter vivências de tempo, e no domínio das mais variadas tecnologias. O grupo passou a ser de tal importância para a espécie que essa se mudou da natureza para a sociedade, tornou-se o que Aristóteles chamou de um animal político. O que não invalidou que políticos ajam como os animais do qual descendemos.


O espectro reverie/ Função alfa


Função alfa--------------------------------------------Reverie


O emprego do modelo matemático das funções no conceito de reverie, ampliou-se para investigar sua extensão nas relações e no desenvolvimento humano através do conceito de função-alfa. Isso significa que a pré-concepção após ser acolhida pela reverie_ vai se desdobrar no mundo simbólico como função alfa.


O termo criado por Bion é epistemologicamente coerente com a noção de sistema aberto que deve estar pleno de incógnitas (o desconhecido, o não sabido, o incompleto) para gerar o que pode ser chamado de um looping autopoiético (Chuster, 2011, 2015). Todavia, cabe ressalvar, que como se trata de observações feitas num campo em constante mudanças, inclusive no observador, o modelo matemático das funções pode ser considerado apenas uma poesia matemática, uma analogia poética à ideia de instrumento de observação do analista.


Uma descrição do espectro reverie/ função alfa como looping autopoiético ressalta que o bebê busca uma mãe que não funciona sozinha, pois tem dentro de si incontáveis gerações de mães, que tem dentro e/ou ao seu lado o suporte da mente do casal-unido-sexualmente, que por sua vez encontra suporte na cultura da família, que encontra suporte na mentalidade da sociedade, e que culmina na busca de uma mente criativa. Esta última é produto final das pressões exercidas pelo conjunto para buscar soluções evolutivas na cadeia de interações complexas. Trata-se de um modelo holográfico, onde cada parte representa o todo, bem como, obviamente, o todo só pode ser entendido pela soma de suas partes[9].


O modelo holográfico de Bion na prática também emprega o conceito de simetria, que é um conceito usado na arte, na matemática, e na Física quântica. Como expressão de um sistema aberto, a simetria coloca infinitas possibilidades, lidando com o intricado dos confrontos entre termos que necessariamente não são contrários e nem complementares, apesar de interagirem num espectro. Um exemplo de simetria é entre onipotência e desamparo.


Na própria teoria espectral, se em um polo temos a reverie, descrita como função predominantemente sensorial de acolhimento amoroso do bebê, no outro polo, a função alfa, será predominantemente simbólica. Elas são simétricas e não exatamente complementares, pois são simultâneas, não-lineares, e não evolutivas.


No espectro que formam as funções simétricas podemos aplicar o que na matemática se denomina de princípio de Indecidibilidade da origem (Kurt Gödell). Ou seja, não podemos determinar onde uma termina e a outra começa. Existe uma simetria, ao longo da vida, que convive com pontos de contradições insolúveis, emaranhados, e elementos intrincados. Mas a convivência com eles é que permite as soluções (teoria da complexidade).


Uma Teoria da Percepção/Observação de elementos da Psicanálise


O Campo Complexo como fundamento.


As ideias utilizadas por Bion, naturalmente levam a um pensar sobre a noção de um campo complexo regulado por Princípios ético-estéticos. Pude descrevê-los da seguinte forma: Complexidade, Incerteza, Infinitude, Incompletude, Indecidibilidade, negatividade, singularidade (Chuster, 1999, 2002, 2015).


Tomemos esses princípios em relação a uma necessidade psico-lógica (Bion, 1965) de decidibilidade. Para decidir podemos criar um terceiro ponto, ou um terceiro elemento, que funciona como fator de decidibilidade para o momento da observação, mas, que não funciona para outro momento. O que é conhecido torna-se irrelevante ou falso. A observação usando o terceiro elemento, sendo como toda observação incompleta e incerta, só é aplicável para aquele momento. Houve, portento, mudança na técnica psicanalítica_ o que muda a prática.


Ou seja, a radicalidade desta ideia em Bion alterou a concepção e a prática do processo analítico. Um exemplo dessa radicalidade, surgiu quando ele descreve uma função psicanalítica da personalidade (1962b) como um possível desdobramento da intuição humana. Esse conceito mostra que a psicanálise é uma habilidade humana_ variável com as muitas circunstâncias internas e externas_ e que o psicanalista não pode fornecer análise baseando-se em formulas prescritivas, mas apenas ajudar a descobrir e desenvolver, se conseguirmos, socraticamente, trazê-la para o campo. Trata-se de dar à luz a ideias no vínculo estabelecido para a observar a vida mental pelo vértice do inconsciente.


Com isso, o processo analítico passa a ser mais significativamente um ato de um desenvolvimento protegido (Meltzer, 1996), e não um processo de resolução de conflitos pulsionais e ansiedades derivadas da concretude do mundo interno.

O modelo da Grade criado por Bion (1977), analisa funcionalmente o desenvolvimento dentro de um campo onde existe o uso dos elementos da psicanálise. O desenvolvimento de elementos versus o seu uso gera o campo analítico de hipóteses e interpretações sobre o que está sendo observado.

Na Grade temos um limite que é fornecido pela função invertida, pois é observada a posteriori (uma função espelhada). Esse limite se estende através das derivadas no campo que são os elementos da psicanálise. A integração de dá por construção de novas hipóteses, que ficam num lugar onírico da mente do analista. Se vierem espontaneamente à tona nas sessões subsequentes, podemos usá-las. Em matemática chamamos esse pensar de espaço de Hilbert. Um espaço de Hilbert é uma transformação do espaço euclidiano que tira a restrição do número finito de dimensões. É um espaço vetorial dotado de produto interno, ou seja, com noções de distância e ângulos gerando formas imaginativas, cujas aplicações, são tipicamente situações complexas ou funções.


Um exemplo trivial, quando refletimos sobre uma percepção no a posteriori de uma sessão, quando captamos uma totalidade global, uma generalização, sem tonalidade afetiva, isso permite derivar o elemento como elemento beta e desenvolver hipóteses relacionadas.


Se a observação no a posteriori é pensada com detalhes de um objeto e tem a particularidade da tonalidade afetiva, o elemento é chamado de elemento alfa.


Os elementos-alfa permitem criar um plano que aparece nos sonhos, mitos e pensamentos oníricos, onde ocorre uma perceptível integração e sincronização entre pensamento, linguagem e ação.


O vínculo K: o que é conhecer para se transformar e Ser


Em Bion, é muito claro que o trabalho da psicanálise não tem nada a ver com processos de adaptação social e nem com os aspectos contratuais e casuais da vida mental. A psicanálise tem a ver com a intimidade psíquica, que é produto de um vínculo que integra as emoções: o vínculo K (Bion,1962b).


Trata-se de um vínculo que pode ser descrito pela simetria da relação entre sinceridade e confiança (Chuster, 2015, 2018). Quanto maior a sinceridade, maior a confiança, e à medida em que a circularidade se expande, gerando incógnitas e singularidades, vai se ampliando a intimidade psíquica. Isso é válido para qualquer relação humana, e trazido para a análise vale a máxima de Bion de que análise real é vida real.


As ideias sobre a Grade e o vínculo K são da ordem da complexidade, ou seja, seguem uma lógica não linear, que envolvem noções matemáticas como o espaço de Hilbert[10] e os planos de Riemmann-Lobatchevsky da geometria projetiva algébrica[11], ou seja, não se resolve um problema sem criarmos uma “regra” para desdobrá-lo em outros problemas e detalhes_ pois, aumentando-se as incógnitas, cria-se novos planos, um novo sujeito, no qual aumenta-se as possibilidades de solução.


A ideia de “regra” de detalhamento (ou particularização rumo a singularidade) deve ser entendida aqui como parte de um jogo em que existe simultaneamente um anti-jogo, a regra da generalização. Funciona como se fosse o jogo indiano “cobras e escadas”, em que as cobras representam os vícios e as escadas as virtudes, ou seja, a cada movimento indagamos se o nosso método deve ser reaplicado ou modificado. Mudanças constantes de vértices é uma expressão que pode ser aplicada aqui, quando tentamos tratar a psicanálise cientificamente para afastá-la de hábitos e crenças e repetições vazias.


Essa percepção da experiência está ligada ao já mencionado conceito de função psicanalítica da personalidade, que abordarei agora como uma função que define a psicanálise dentro do que se pode chamar de humanismo de resistência; diretriz ética para desenvolver a função psicanalítica.

Essa diretriz coloca o papel do analista num plano muito mais modesto, socrático, e muito próximo do Princípio médico primum non noscere[12]. A psicanálise tornou-se mais difícil e complexa com Bion. Mas, por outro lado, muito mais viva e interessante.

A metodologia evolui como prático-poiética: capacidade negativa


A noção de uma função psicanalítica da personalidade naturalmente pode questionar todas as regras prescritivas clássicas para o processo analítico, tais como o número de sessões, a relatividade do tempo de duração de uma análise, etc.

Por exemplo, o psicanalista se pronuncia não como um prestador de serviços, mas como parte de um contrato de trabalho, através do qual não se decide apenas pelo valor da sessão, mas, simetricamente se decide também pelo custo de não haver análise.


Em outras palavras, a psicanálise surgida de princípios médicos que foram úteis, forneceram parâmetros de trabalho, mas, progressivamente foi surgindo um fosso com a medicina até ficar intransponível na atualidade. A psicanálise trata de curar, erradicar o mal, fazer prevenção, nem fornecer remédio, nem ter uma prescrição do processo que se confunde com o processo.


Trata-se de que forma a mente analítica pode ser sentida pelo analisando como uma função emocionalmente presente. Este tipo de presença_ criada pela capacidade intuitiva treinada_ altera o papel clássico da interpretação_ que todos sabemos ter na psicanálise um valor imenso. Conceitos como interpretação mutativa, interpretação transferencial, reação terapêutica negativa, validade interpretativa dependente da inserção da defesa e ansiedade, tornaram-se secundários ao que podemos chamar o papel de uma mente preparada para escutar o objeto psicanalítico (1962b), e traduzir os parâmetros da percepção, com uma integração na linguagem dos mitos, sentidos e paixões.


Por outro lado, em Bion, essa mente se prepara melhor se puder conceber que na questão metafísica central que é a busca da Verdade, existe complexidade, e por isso não sabemos onde uma investigação vai parar ou se vai parar. Se a Verdade é o centro da atividade analítica, no seu centro prático temos algo vivo e inacessível seja no processo em si como na ontologia dos elementos do analisando tudo que se pode fazer é criar, isto é, tentar imaginar o que seria a verdade por um momento caso pudéssemos nela chegar.


O uso da imaginação ganha então em Bion um papel decisivo.


Para que a imaginação tenha lugar é preciso que o analista evite a relação com o casal memória e desejo. Memória é feminina, desejo é masculino. A memória procura um desejo que a penetre e o desejo procura uma memória para penetrar. Os dois juntos no leito sensorial, produzem um terceiro, a necessidade de compreensão que passa a decidir sobre tudo que ocorre. Esse bebê edípico, formado pelo casal memória e desejo, produz interpretações que distorcem as observações feitas. É preciso então que funcione um outro casal continente e conteúdo, livre dos desejos edípicos e pontos cegos do analista.


De uma forma, mais poética, consegue-se isso usando a capacidade negativa, que é a capacidade de tolerar as incertezas, os mistérios e as meias verdades sem a interferência do bebê que fica ansioso para ter compreensão e chegar a uma razão qualquer.


Considero um traço de forte genialidade de Bion ter descoberto que memória e desejo atraem os desejos edípicos do analista e obscurecem a percepção. São como grilhões que impedem de ver a luz.


Transferência e vínculo K


Certamente que a questão dos conflitos pulsionais que atrapalham o desenvolvimento psíquico, continua presente no trabalho analítico_ como possibilidade – entre outras como também a questão das ansiedades produzidas pela concretude da realidade psíquica. Mas a ênfase do trabalho analítico não está mais nos conflitos pulsionais e nas relações objetais. A ênfase é colocada nas funções psíquicas, e no que elas causam na falha de valores estéticos e éticos que regulam a qualidade de vida psíquica.


Se tomarmos aqui as ideias sobre o vínculo K veremos que o desdobramento do casamento entre a sinceridade e a confiança, vai gerar com o aumento do valor da intimidade psíquica outro looping autopoiético: a sinceridade se desdobra em honestidade, que gera honra, que gera o valor da palavra, que gera integridade, que gera o caráter, que gera coragem, que gera compaixão, que gera respeito à vida, que gera respeito à verdade e que volta a se refletir sobre a honestidade com o valor confiança.


Honestidade/Honra/palavra/integridade/caráter/coragem/compaixão/respeito à vida/respeito à verdade----------confiança----------sinceridade-------honestidade


Nas personalidades em que a honestidade é atacada, e não praticada, o desastre é semelhante ao que acontece quando se enfileira dominós, e se derruba o primeiro deles (que é a honestidade). Os demais caem em sucessão. Aplique-se esta ideia a qualquer setor da vida mental, na ciência, na política, na medicina, nos esportes, na administração pública, enfim em qualquer lugar. Note-se que não se trata de valores morais, certo e errado, mas de valores éticos que se ampliam na personalidade com os valores estéticos. Estas duas áreas, a estética, como qualidade dos sentimentos e a ética como qualidade dos valores associados a estes sentimentos acolhe a reverie/função alfa e, como conjunto, forma as concepções e os conceitos.


A Transferência como o protótipo de uma viagem em direção ao Futuro


A ênfase da experiência analítica está no futuro da transferência: com o conceito de vínculo K_ o vínculo ético-estético do conhecimento_ o Saber em Bion passa a ser não o que sabemos, mas o que precisamos e desejamos saber para poder Ser. Do ponto de vista prático, o que eu sei da sessão de ontem não me serve mais, apenas aquilo a que estou me dedicando a investigar hoje_ e que não está completo_ e me conecta ao futuro: a sessão de amanhã.


O futuro está sempre se anunciando ao presente e, com isso, antecipando-se a ele, o que faz questionar a concepção clássica de que uma causa antecede um efeito; que, portanto, uma causa é sempre o passado de um efeito, ou o efeito, visto do lado da causa, é o seu futuro. Essa inversão da lei da causalidade gera uma antecipação do futuro que faz com que experimentemos hoje aquilo que imaginamos que poderá vir a ser um dia. Ou seja a virtualidade pode ser a realidade, e a realidade pode passar a ser virtual. Sem um realismo responsável, ou sem um humanismo de resistência podemos mergulhar na predominância da parte psicótica e perder a capacidade para criar.


O trabalho psicanalítico não se esquiva de se afirmar como difícil, pois o momento do Saber que conduz ao Ser precisa ser construído, precisa ter simetrias nessa construção, e só pode ocorrer em alguns momentos, que posso descrever usando a metáfora do amanhecer e do entardecer. Trata-se daqueles momentos de luz e sombra, momentos que consigo ver algumas coisas e outras não, momentos onde existe um faixo de intensa escuridão, momentos que se alternam entre um amanhecer que não permite ver o que está próximo, e momentos de entardecer que não permite ver o que está ao longe.


A ideia de campo de investigação foi notavelmente colocada pela Teoria do Pensar de Bion (1962a). Ele enfatizou que a psicanálise é uma resposta prática para questões filosóficas (ou seja, questões da vida), desde que essa relação seja regida pela mesma relação que existe entre a matemática pura e a matemática aplicada (ou seja, a psicanálise precisa possuir um campo que estabeleça seus limites e limitações, e que criem princípios epistemológicos que a afastem de hábitos cegos, crenças e repetições vazias).


Em outras palavras, a psicanálise precisa ser tratada cientificamente, mas isso também significa dizer para as outras ciências (que disso duvidam), que se trata de uma atividade única na história da humanidade. Sua distinção é de tal ordem que não tem como dar satisfações a outras ciências. A identidade que conserva com as ciências é o interesse na busca da Verdade.


Esse interesse foi colocado por Bion (1970) com o significado de um ato de Fé. Este ato deve ser diferenciado do estado mental de Fé, que ocorre nas religiões, e que tem a Verdade. O ato de Fé não tem nada a ver com a Verdade em si, mas sim com a capacidade de criação. Este é um viés nietzschiano, guinada filosófica que Bion realizou nos anos 70.


A Teoria do Pensar cria o campo da pré-concepção que se realiza por um espectro infinito de possibilidades de concepções e conceitos, regido pela complexidade do princípio da Incerteza. Concepções são pensamentos com os quais relacionamos com nós mesmos, e conceitos os pensamentos com os quais nos relacionamos com os outros. Eles fazem parte de um espectro descrito pelo objeto psicanalítico: o espectro ±Y que contempla dois polos de realização: o polo do narcisismo –Y e o polo do social-ismo +Y[13].


Podemos falar, através desse modelo espectral de aspectos distintos do desenvolvimento humano, através de derivados de uma espécie de Pathos do Saber.

Por exemplo, pela visão do narcisismo encontramos diante da investigação sincera, uma oposição que a julga apenas obstinação por saber o que é melhor não saber, deste modo, uma hipótese definitória seria uma escolha destrutiva. Os sentimentos de liberdade na investigação podem ser julgados como um furor que impede o que se deve pensar, e sugerido que a escolha deve ser pelo falso ao invés do verdadeiro, e com isso fazendo prevalecer a resistência ao desconhecido. A possibilidade de usar a história amplamente é tomada como recusa de reconhecer a verdade como ela é apresentada pelo Establishment, as mudanças causadas pela descoberta de uma Verdade podem ser vistas como um desastre causado pelo Saber, visão que destrói a Atenção durante uma investigação, e finalmente a busca do Saber vista como um processo negativo que obriga a subtrair-se totalmente do mundo visível, fazendo de qualquer indagação algo maléfico.


A Grade, que é o formato inicial com que Bion transcreve suas anotações sobre a prática, pode ser vista de várias formas. Por exemplo, o eixo horizontal traduz a metodologia empregada pelo analista e suas modificações. Temos assim um Método de escolha (Hipótese definitória), um método de dúvida (elemento Ψ), um método de esclarecimento (Notação), um método de Atenção, um método da investigação (Indagação), um método da linguagem (interpretação como ação requerida no campo analítico). Essa última sendo a escolha entre a Linguagem de Êxito ou a linguagem de substituição (1970).


Transferência e Objeto psicanalítico


A visão do modelo espectral, ao mostrar a incompletude de todos os elementos psíquicos, possibilitou descrever, como assinalamos, a transferência se movendo numa configuração circular e espiralada, que deixa de lado os conceitos clássicos de repetição, e correlativos ligados a teoria pulsional e estrutural de Freud. Não os exclui porque se trata de um modelo complexo aberto a todas as possibilidades_ mas a ênfase na investigação mudou em virtude do princípio da Incerteza.

As ideias de Bion tiveram neste ponto uma resposta inédita na criação do seu objeto da psicanálise, o objeto psicanalítico (1962b), que tem áreas de aplicação, num contexto ético-estético interativo entre as áreas dos mitos, sentidos e paixões. São elementos de uma experiência emocional profunda e criativa.


Com o modelo do objeto psicanalítico, Bion mostrou que a configuração da transferência, pode seguir uma nova compreensão, diferente da teoria das posições de Melanie Klein. As posições em Bion são complexas e simultâneas, criando uma permanente tensão psíquica, que ele denomina de turbulência emocional. O processo de negociação entre elas, que é sempre difícil, vai se movendo com o quantitativo das forças presentes em cada uma delas. Por outro lado, a negociação_ sendo sempre tridimensional_ precisa sempre encontrar um terceiro que as integra, o fato selecionado, e que varia de acordo com o tipo de tensão vivenciada. Bion descreve essa negociação usando a teoria das transformações (1965).

Gráfico representativo de forças psíquicas em permanente tensão e turbulência


Em resumo, a negociação entre as posições implica num processo de escolha viva (fatos selecionados), que pode significar tanto um processo criativo em direção a um Saber sobre si mesmo, como pode significar um processo destrutivo, caso a negociação escolha fatos (fatos selecionados) que movem o sentido espiral na direção de um desenvolvimento negativo. Daí a teoria das transformações levar em conta que se trata sempre de criação e destruição de formas. Além disso, o que define os fatos são consequência da relação entre a parte não psicótica e a parte psicótica da personalidade. Por exemplo, se a parte psicótica predomina a escolha pode ser da negação do tempo, pois tempo é igual a frustração.


Transformações: Onthos que se desdobra em Opus.


Na teoria das transformações (1965), os elementos que compõem a pré-concepção e que geram as proposições da Teoria do Pensar aparecem de uma forma nova com o designativo “O”.


A noção de “O” é bem ilustrada na literatura para quem conhece o texto de James Joyce, Finnegans Wake. Trata-se de uma obra sempre em construção, um Opus (Work in progress)


A disposição estrutural de Finnegans Wake em circularidade é o que permite o acesso a partir de qualquer página e o leitor, por sua vez, tem autonomia explicitamente garantida, impelido a tomar uma decisão no primeiro acesso ao livro. A circularidade, no entanto, e a numeração dos fragmentos sugerem uma ordem tácita — que não pode ser simplesmente ignorada, mas não deve ser vista, também, como a única forma de leitura; assim se engendra o nível de ambiguidade da obra. Como em Ulysses a presença da Odisseia na concepção de cada um dos capítulos é uma possível referência de leitura, mas não a linha central, isto é, não é um necessário paralelismo à incursão ao livro de Joyce. Ler literatura é dispor-se a um caminho que não busca certezas, ao contrário do que o apego a análises literárias demasiado pragmáticas, ainda que o neguem, possa sugerir.


Os elementos que perfazem o trajeto de algo que quando se supõe chegar ao fim nos conduz ao início do texto, ao ponto inicial, são aqueles que compõem a pré-concepção ou a noção de arcabouço psíquico, a função originária da vida mental, em Bion: espaço, tempo e profundidade.

Espaço representa as concepções e os conceitos (espaço mental de desdobrando), a intuição representa o tempo, e a profundidade, a resultante na qualidade da vida psíquica.


Podemos seguir essa criação de Bion no texto Domesticando pensamentos selvagens, que também podemos traduzir por observando pensamentos livres. Assim, temos os pensamentos com proprietários, os pensamentos desgarrados, os pensamentos livres, e os pensamentos sem pensador. Eles correspondem a graus de profundidade que podemos atingir com o nosso pensar, sendo que pensar um pensamento sem pensador é algo que poucas pessoas na História da humanidade conseguem fazer. Mas, de qualquer forma este tipo de pensamento está por aí em estado selvagem, crescendo na “selva” ou nos “profundos mares” ou no futuro, ou no “cosmos” do inconsciente.


Outra forma de entendermos o processo de transformações descrito por Bion, consiste em considera-las como formas de relações que podem se estabelecer entre continente e conteúdo. Nestas formas de relacionamento, a harmonia da comunicação entre continente e conteúdo pode se perder pelo aparecimento de outros elementos que se agregam a identificação projetiva que significa a forma básica de comunicação, ou seja, em seu estado real é o leito do Rio por onde correm as palavras de uma pessoa em direção a outra.

A agregação de elementos decorrentes da turbulência emocional de um encontro pode causar uma compressão do conteúdo fazendo surgir uma área de desarmonia com o continente. Essa área de desarmonia_ caso seja produzida pela intolerância a frustração decorrente da imaturidade dos objetos edípicos_ será preenchida por enganos e equívocos, característicos da transformação em moção rígida. Se a estes elementos acrescenta-se a violência dos objetos primitivos presentes na incompletude dos objetos edípicos (imaturidade), teremos as transformações projetivas cujo elemento principal são as falsidades na área de desarmonia. Caso apareça a inveja destrutiva e a inveja espoliativa, teremos um esmagamento maior ainda do conteúdo, e a área de desarmonia é preenchida pelo elemento característico que são as mentiras: são as transformações em Alucinose. Se o esmagamento prossegue ainda mais com aumento da intensidade de todos os elementos, então o conteúdo pode ser expulso do continente e teremos um quadro psicótico: um conteúdo orbitando e pedindo ajuda a um continente que não escuta.


Outras leituras da Configuração edípica


A descrição da configuração edípica como experiência emocional ou de vínculos escritos em um estado de repouso com a abstração máxima, ou expressão-limite, ressalta o caráter tridimensional da mente humana. Essa descrição tem a vantagem de permitir uma saturação simbólica de nossa escolha, podendo ser a que foi promovida pelo uso clássico dos personagens de Sófocles.


Uma elaboração inédita em Bion, que aparece no texto Atenção e Interpretação (1970) se resume na ideia, distinta de Freud, de que não se trata da dissolução do complexo de Édipo, mas da sua evolução ou involução.

No texto Bion descreve três tipos de vínculos continente/conteúdo de acordo com a matemática de sua relação com a Verdade. A relação comensal (1+1=3), o simbiótico (1+1=1), e o parasitário (1+1=0). O que determina a passagem de uma configuração para outra foi descrito quando explicitei os processos de transformação que fazem alterações da harmonia para a desarmonia, e vice-versa.


São três tipos de configuração edípica, cada uma correspondendo a uma peça da trilogia de Sófocles. O comensal corresponde ao Édipo Rei, o simbiótico ao Édipo em Colona, e o parasitário a Antígona. As configurações se alteram, se alternam, evoluem ou involuem, de acordo com os elementos que nelas predominam. Por exemplo, se predominar a busca de alimento mental com a verdade, a configuração será comensal, mas se esta busca for sobrepujada por onipotência e arrogância, a configuração mudará para simbiótica. Se a arrogância se associar com voracidade surge a simbiose, mas se agregarmos onisciência mais inveja e mais voracidade, a configuração muda para parasitária. Na parasitária o resultado é a morte do indivíduo e seu grupo.



Em conjunto represento os três níveis de possibilidades vinculares com a imagem de uma escada.


Podemos pensar novamente no jogo cobras e escadas, mencionado por Bion, em Cesura (1975). Se o jogador cai numa cobra (H) existe retrocesso, mas se cai em K existe um pulo, e se cai em L simplesmente continua jogando.


Os elementos que permitem passar de um nível para outro podem ser descritos pela interpretação analítica no decorrer do processo analítico. A interpretação deve ser uma descrição e não uma narrativa. Uma descrição se utiliza de elementos oníricos, ao passo que a narrativa pretende se passar por verdade negando a incerteza. A narrativa produz os desvios que vou descrever a seguir.

Por exemplo, na configuração comensal, quando existe um desvio para L pode ocorrer a busca de uma mente onipotente ao invés de uma mente que busca a verdade (K). Gradualmente, a busca por onisciência e onipotência, torna-se frustrante e pode desviar para H, quando se transforma em arrogância, o que produzirá a mudança de configuração de comensal para simbiótica.


Na configuração simbiótica, um desvio para L cria a conhecida situação em que ocorre uma fixação na figura parental do mesmo sexo, e surge a rivalidade com o sexo oposto. A rivalidade gera crueldade, e essa não tem limite em suas possibilidades de expressão. Quanto maior a crueldade, maior é a produção de mentiras e ocorre a mudança para a configuração parasitaria.


Espaço, tempo, e profundidade, são elementos que se ampliam na medida que a tensão psíquica (turbulência) é enfrentada pela capacidade negativa – o que significa utilizar mais a intuição ou tolerar o tempo cego de observação cuidadosa até o ponto que essa pode ligar-se a um conceito que dará espaço para o desenvolvimento da observação.

A Prática como Cesura


Então... investigue-se o conjunto infinito, não linear, não determinístico, complexo, não euclidiano: conceito=espaço, intuição= tempo, profundidade=pensamento. Investigue-se, em outros termos, a Cesura (1975).


As ideias de Bion sobre a Cesura (1975) representam uma das diferenças importantes em sua obra, pois reforça de outra forma o trabalho e a noção de transferência que havia feito em Transformações (1965). A Cesura é um termo basicamente da linguagem poética que significa uma pausa, mas usado por Bion sugere um modelo de trabalho no campo analítico a ser feito, e que pode ser resumido da seguinte forma: não se trabalha a transferência, mas na transferência.

A Cesura é como se fosse uma entidade infinitamente plástica, capaz de surgir em qualquer lugar, fazendo uma conexão entre dois meios. Sua condição é puramente fantasmática, uma vez que passa a existir por causa dos elementos simbólicos que a identifica num determinado momento. Sua conexão com o tempo é notável, tanto poética quanto praticamente.


Ou seja, a Cesura é determinada pela condição de um sujeito que aí se revela com a dimensão mais básica do ser humano: o tempo entre seu Onthos e seu Opus. A cesura é tempo, através do qual indagamos a indivisibilidade dos elementos, espaço e profundidade.


Os três elementos que constituem a tridimensionalidade da mente humana_ como já ressaltei_ estão contidos como potencialidade no elemento inato da pré-concepção. Reitero aqui o que tenho feito em vários trabalhos: o que é inato na pré-concepção é a disposição para buscar uma mente tridimensional. Esse processo não ocorre sem uma cesura.


Por exemplo, podemos falar de pré-natal e pós-natal, sono e vigília, consciente e inconsciente, finito e infinito, humor transitivo e intransitivo, transferência e contratransferência. Mas a relação entre os meios só pode ser nomeada com os recursos da linguagem. Tudo então depende de qual linguagem utilizar. Em Bion (1970), esse ponto é de decisão: Linguagem de Êxito ou Linguagem de Substituição?


Se usarmos a Linguagem de Êxito, usaremos a cesura, então teremos uma palavra combinada para abrir realidades infinitas. Não Eu e Tu, mas Eu-Tu, não transferência e contratransferência, mas a (contra-trans) - ferência. São palavras obtidas deste jogo bem-humorado que pode ser o analisar através da habilidade de fazer as perguntas difíceis (que são palavras combinadas), e que só tem respostas temporárias. São as perguntas essenciais, para momentos nodais da prática analítica. Momentos que cabe a escolha de um destino: breakdown, breakup, breakthrough.


A intuição sendo basicamente a expressão do tempo interno, tem sua parte que se pode chamar de contra-intuição ilustrada pela cena do chapeleiro louco em Alice no País das Maravilhas de Lewis Carrol[14]. A cena mostra como a perda da função do arcabouço psíquico- a pré-concepção – transforma o tempo em um espaço onde nada acontece e, consequentemente, sem profundidade e alcance. Se toda hora é hora do chá, não há intervalo, portanto, não há chá. Nesta cena temos também o personagem coelho que está sempre atrasado, mas o relógio que ele usa não tem ponteiros, ou seja, o relógio (o tempo) perdeu sua função ao perder os vínculos com o espaço e a profundidade.


Para terminar cito um poema sobre a intuição que significativamente ilustra as ideias sobre as quais estive discorrendo:


The way through the woods de Rudyard Kipling[15]:

A trilha da Floresta

Fecharam a trilha da floresta


Setenta anos atrás

Com chuva e vento da trilha hoje nada mais resta

Um guarda florestal

Foi o último que sua existência atestou

E a festa das rolinhas registrou

E dos texugos seu vai e vem natural na memória guardou

Mas da tal trilha nada restou

Hoje, se alguém na floresta entrar

No final de uma tarde de verão

E sentir a brisa que vem o lago refrescar

Verá que lontras estão a pescar trutas

Elas não temem os humanos

Não tem conceitos sobre tais seres estranhos

Então se você abrir a mente poderá escutar o galope dos cavalos

As esporas roçando os arbustos

Sinal de avanço firme e comandos robustos

Naqueles ermos enevoados

Passando a trilha com cuidados de exatidão

Mas... não existe mais trilha alguma




REFERÊNCIAS


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Chuster, A. e Trachtenberg, R. (2009) As Sete Invejas Capitais. Artmed, Porto Alegre.

Chuster, A.; Soares, G., Trachtenberg, R.;(2014) A Obra Complexa, Editora Sulina, Porto Alegre

Meltzer, D. (1996) Meltzer em São Paulo: seminários clínicos, Casa do Psicólogo, São Paulo



NOTAS

[1]- Mas, sobre isso podemos consultar em Bion (1975) a citação que ele faz da morte de Palinurus, um trecho da Eneida, onde o Deus Somnus, a onipotência no sentido grego, aparece disfarçado de humano e aproveita o apego de Palinurus a sua teoria institucional para jogá-lo ao mar. [2]- J.W. Dauben, Georg Cantor: His Mathematics and Philosophy of the Infinite; Cambridge, Massachusetts, 1979. [3]- Kurt Gödell collected works, edited by Solomon Feferman, Clarendon, 2014 [4] -The uncertainty principle, in. Stanford Encyclopedia of philosophy, 2017 [5]- B.B. Mandelbrot, The Fractal Geometry of Nature; W.H. Freeman and Company, Nova Iorque, 1975. [6]- Kellert, Stephen H. (1993). In the Wake of Chaos: Unpredictable Order in Dynamical Systems. University of Chicago Press. p. 32. [7] - Morin, Edgar; Meus Filósofos, editora Sulina, Porto Alegre, 2012. [8] - Conceituar a situação analítica como um campo implica em: 1) considera-la como totalidade 2) levar em conta que o analista e analisando constituem uma unidade funcional, e que estão ambos comprometidos de formas distintas no processo. 3) levar em conta que ambos são partícipes de uma relação que se transforma. 4) afirmar que os fatos observados em cada sessão não são preexistentes à mesma, mas se originam na própria. 5) considerar que os fatos nela gerados se manifestam como conjunto transferência/contratransferência e não separadamente como transferência e contratransferência. [9] - From Planck Data to Planck Era: Observational Tests of Holographic Cosmology. 2017, in Physical Cosmology Review.; tradução de Jefferson Padilha. [10] -Young, Nicholas (1988), An introduction to Hilbert space, Cambridge University Press [11] -Jost, Jürgen (2002), Riemannian Geometry and Geometric Analysis, Berlin: Springer-Verlag, [12]- Smith, C. M. (2005). "Origin and Uses of Primum Non Nocere — Above All, Do No Harm!". The Journal of Clinical Pharmacology 45 (4): 371–377 [13] (O termo social-ismo usado por Bion contém a precaução de se diferenciar da ideologia colocando o hífen na palavra. Talvez possamos substituí-lo por autonomia social ou criação de consciência social. Por outro lado, o narcisismo espectral aparece como distintos superegos com as possibilidades superegóicas de organização para o assassinato, roubo, tráfico de drogas, corrupção ética, e contrabando moral). [14] -Lewis Carroll (2009). As Aventuras de Alice no País das Maravilhas: Relógio d'Água, São Paulo. [15] - A tradução é minha.

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